segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Quedas interferem negativamente no processo de envelhecimento

ENSP, publicada em 01/10/2008

O efeito e as conseqüências das quedas na qualidade de vida dos idosos foram temas de um estudo realizado pelo Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli (Claves/ENSP/Fiocruz) em uma comunidade de baixa renda da cidade do Rio de Janeiro. A análise mostrou que há influência das quedas na qualidade de vida dos idosos estudados, e dentre as conseqüências mais citadas estão fraturas (24,3%), medo de cair (88,5%), abandono de atividades (26,9%), modificação de hábitos (23,1%) e imobilização (19%). Nesta quarta-feira (1/10), o Brasil comemora, pela primeira vez, o Dia Internacional da Pessoa Idosa com o Dia Nacional do Idoso, que, até 2006, era festejado em 27 de setembro.

"As quedas são freqüentes entre os idosos e trazem conseqüências que alteram negativamente a qualidade de vida dessas pessoas", afirmou Adalgisa Ribeiro, pesquisadora do Claves e uma das autoras da pesquisa.

Participaram do estudo 72 idosos com idade de 60 ou mais anos, dentre os quais 51,4% eram do sexo feminino, 20,8% moravam sozinhos e 37,5% admitiram ter caído no último ano. De acordo com Adalgisa, o processo de envelhecimento vem acompanhado por problemas de saúde físicos e mentais provocados, freqüentemente, por doenças crônicas e quedas. "A queda em pessoas idosas está associada à dificuldade de visão, auditiva, uso inadequado de medicamentos, dificuldade de equilíbrio, perda progressiva de força nos membros inferiores, osteoporose, dentre outras situações clínicas que culminam para maior probabilidade de uma pessoa idosa cair".

Além das conseqüências diretas da queda, os idosos restringem suas atividades devido a dores, incapacidades, medo de cair, atitudes protetoras de familiares e cuidadores ou até mesmo por aconselhamento de profissionais de saúde. Em 2005, ocorreram 61.368 hospitalizações por queda de pessoas com 60 anos ou mais de idade, de ambos os sexos, representando 2,8% de todas as internações de idosos no país e 54,4% das internações por todas as lesões e envenenamentos nesse grupo etário. No estado do Rio de Janeiro, o percentual de hospitalizações por queda entre os idosos atingiu 3,7% de todas as internações de idosos no estado. Na capital deste estado, foram 1.934 hospitalizações de idosos devido às quedas, expressando 6,5% das internações por todas as causas entre as pessoas nessa faixa etária e 60,5% de todas as lesões e envenenamentos que geraram hospitalizações entre esse grupo. "É preciso levar em consideração que essas foram as quedas mais graves e que exigiram cuidados hospitalares mais intensos, porém uma grande parcela desses eventos não leva o idoso a procurar os serviços de saúde por não apresentarem seqüelas tão graves como uma fratura ou algum outro tipo de ferimento", revelou a pesquisadora.

Números do Ministério da Saúde apontam que, a cada ano, o SUS tem gastos crescentes com tratamentos de fraturas em pessoas idosas. Em 2006, foram R$ 49.884.326 com internações de idosos por fratura de fêmur e R$ 20 milhões com medicamentos para tratamento da osteoporose. O levantamento também traz um histórico das internações por fratura de fêmur em idosos de 2001 a 2006. A quantidade de internações aumenta a cada ano, e as mulheres são as mais atingidas. Dentre as mulheres, foram 20 mil internações em 2006, e dentre os homens 10 mil. "Por causa da osteoporose, elas ficam mais vulneráveis às fraturas. Os homens caem, mas não fraturam tanto quanto as mulheres", explicou José Luiz Telles, coordenador da Área Técnica da Saúde do Idoso do MS e pesquisador da ENSP.

No estudo do Claves, do qual participaram 72 idosos, 41,7% possuíam de 60 a 69 anos, enquanto outros 41,7% tinham de 70 a 79 anos, e 16,6% compreendiam a faixa de 80 a 91 anos. Dentre eles, 37,5% admitiram ter caído no último ano e, dos que caíram, 70,4% referiram-se a uma só queda, enquanto 29,6% relataram mais de uma. "Além de fraturas, as quedas provocam uma série de outras conseqüências. O medo de voltar a cair passou a fazer parte da vida do idoso e foi referido por 88,5% dos 26 idosos que afirmaram haver tido alguma conseqüência. Dentre essas, destacaram-se o abandono de certas atividades (26,9%), a modificação de hábitos (23,1%) e a imobilização (19%)".


O estudo demonstrou que o local onde ocorre a queda parece estar relacionado com as habilidades que o idoso apresenta para realizar as tarefas da vida diária e com a idade. A maioria das quedas detectadas na pesquisa ocorreu na residência do idoso (59,5%), mas deve-se considerar os 40,5% dos casos ocorridos fora da residência. O trabalho também foi tema de um artigo na Revista Ciência e Saúde Coletiva, elaborado pelos pesquisadores Adalgisa Peixoto Ribeiro, Edinilsa Ramos de Souza, Soraya Atie, Amaro Crispim de Souza e Arthur Orlando Schilithz.

Gráfico: Revista Ciência e Saúde Coletiva

FONTE: http://www.ensp.fiocruz.br/portal-ensp/informe/materia/?matid=13377

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